Onde estamos? Mata Atlântica!
Distribuída por mais de 17 estados brasileiros, a Mata Atlântica é composta por uma série de fisionomias vegetais bastante diversificadas, determinadas pela proximidade da costa, relevo, tipos de solo e regimes de chuva. Essas características foram responsáveis pela evolução de um rico complexo biótico de natureza florestal. Os domínios da Mata Atlântica abrigam 70% da população brasileira, além das maiores cidades e pólos industriais do Brasil. Sua intensa ocupação pode ser evidenciada pelo grau de devastação da floresta: somente 8% de sua área original continuam intactas, sendo que a floresta está entre as 25 regiões do mundo de mais rica biodiversidade.
Um estudo realizado pela organização ambientalista Conservation International inclui a Mata Atlântica entre os cinco primeiros colocados na lista das áreas de alta biodiversidade mais ameaçadas do planeta e prioritárias para ações urgentes de conservação. Apesar da devastação acentuada, a Mata Atlântica ainda abriga uma parcela significativa da biodiversidade brasileira, com altíssimos níveis de endemismo*. Sua riqueza é tão significativa que um dos maiores recordes mundiais de diversidade botânica para plantas lenhosas foi registrado nesse bioma (458 espécies em um único hectare do sul da Bahia) em estudo realizado pelo Jardim Botânico de Nova York e o Herbário da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac). Em outro estudo realizado em 1996 na Estação Biológica de Santa Lúcia, no Espírito Santo, em apenas um hectare de Mata Atlântica, foram encontradas 476 espécies arbóreas, superando valores conhecidos da Amazônia e demais florestas tropicais no mundo. No entanto, neste cenário de grande riqueza e endemismo, observa-se também um elevado número de espécies ameaçadas de extinção. Em alguns grupos, como o das aves, 10% das espécies encontradas se enquadram em alguma categoria de ameaça. No caso de mamíferos, o número de espécies ameaçadas de extinção atinge aproximadamente 14%.
Mata Atlântica também é abrigo para várias populações tradicionais e garantia de abastecimento de água para mais de 120 milhões de brasileiros. Na Mata Atlântica nascem diversos rios que abastecem as cidades e metrópoles brasileiras. Seus remanescentes regulam o fluxo dos mananciais hídricos, asseguram a fertilidade do solo, controlam o clima, protegem escarpas e encostas das serras, além de preservar um patrimônio histórico e cultural imenso. Essa região possui, ainda, belíssimas paisagens, verdadeiros paraísos tropicais, cuja proteção é essencial ao desenvolvimento do ecoturismo.
O monitoramento desse ecossistema realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Instituto Socioambiental (ISA), mostrou que, somente entre 1990 e 1995, mais de meio milhão de hectares de florestas foram destruídos em nove estados nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, que concentram aproximadamente 90% do que resta da Mata Atlântica no país. Esse valor é equivalente a mais de 714 mil campos de futebol eliminados do mapa em apenas cinco anos. Uma destruição proporcionalmente três vezes maior do que a verificada na Amazônia no mesmo período.
O projeto PROBIO do Ministério do Meio Ambiente publicou recentemente o mapa de “Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira” onde constam 900 áreas de importância significativa, determinadas a partir de estudos realizados em cinco projetos que avaliaram os biomas brasileiros. Brasópolis encontra-se inserida em uma das áreas apontadas como de prioridade extremamente alta (MA-692) para os fins supra citados. Representada pela Serra da Mantiqueira, a região abriga fragmentos de floresta relativamente extensos, importantes para preservação de muitas espécies que encontram nestes seu último refúgio. Brasópolis, Gonçalves, Sapucaí Mirim, Wenceslau Braz e outros, ainda tem a opção de tomar uma posição mais racional em relação ao meio ambiente, procurando conciliar o desenvolvimento sócio-econômico com atividades de baixo impacto ambiental como o turismo em suas diversas possibilidades e a agricultura orgânica, atividades de valorização crescente no cenário mundial. Devemos nos conscientizar quanto a importância da riqueza guardada a céu aberto em nossa região. Cabe a nós decidir se o pouco que resta dessa maravilha que é a Mata Atlântica deve se extinguir, manter-se, ou quem sabe, se recuperar.
* endemismo: caráter daquilo que tem ocorrência restrita a uma região determinada.
Autor: Diego de Noronha Assini
Artigo publicado no jornal “Brazópolis”, edição de Março/Abril de 2005.
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